terça-feira, 1 de novembro de 2011

Reforma ortográfica

       
        
Há a ideia generalizada de que uma ortografia é tanto mais conveniente quanto for mais fonética. Isso é válido para o caso de uma língua cujo número de falantes é relativamente pequeno e que não apresenta grande variação linguística (variações dialectais ou socioletais), mas deixa de ser válido no caso de idiomas com uma grande distribuição geográfica (como o português). Nesses últimos casos, é impossível uniformizar a escrita, pois uma grafia torna-se fonética para uma variante do idioma, mas não para outra.
Assim, no caso do português, para escrever foneticamente, por exemplo, o número "20", poderiam eventualmente usar-se as escritas bint, vint, vintchi, vinte, vinti, conforme fosse escolhida a pronúncia popular do Porto, de Lisboa, do Rio de Janeiro (cidade), de Curitiba ou de Luanda. Isto demonstra que, para uma grande língua, a escrita totalmente fonética não é viável. Há escritas, como a escrita chinesa, que adotam um sistema ideográfico, em que a grafia é entendida por todos, inclusivamente por falantes de diferentes línguas, como o cantonês ou o Língua mandarim. Entretanto, essa escrita apresenta o inconveniente de ter milhares de grafemas para reproduzir a riqueza lexical de um idioma.
A ortografia da língua portuguesa adota o meio-termo. As palavras são apresentadas não de maneira completamente fonética, mas aproximadamente fonética. Cada palavra terá, então, um aspecto reconhecido imediatamente por todos os falantes alfabetizados da língua, mas que não impeça que cada palavra escrita seja pronunciada de modo diferente em cada região. Por outro lado, como todas as palavras têm uma origem, na escrita da língua portuguesa são também mantidas algumas marcas etimológicas, como são exemplos a manutenção do "h" inicial em palavras como homem, hoje, hospital e as consoantes mudas na ortografia em uso em Portugal em palavras como acta, tecto, didáctico, óptimo, adoptar, Egipto.

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